Certo dia eu decidi correr, nunca tive esse habito quando era criança, estranho eu sei, toda criança corre, mas eu não corria, e nesse dia eu quis correr, nada mais me importava, só sabia que meu corpo estava quase me obrigando a isso, cada instinto meu gritava.
Então eu respirei fundo, e não pensei muito, simplesmente comecei a correr, e fui correndo cada vez mais rápido, me assuntei com a velocidade que eu tinha alcançado, eu percebi que eu podia ser veloz, que eu podia correr, podia alcançar a uma velocidade que me dava uma sensação maravilhosa, sensação de liberdade, de força, eu nunca tinha imaginado que fosse tão maravilhoso simplesmente correr.
Daí por diante, eu não andava mais, só corria, se eu tinha um tempinho corria, e quando não tinha esse tempinho, eu criava, não conseguia parar de pensar em quão perfeito era correr, não havia nada que me prendesse, eu era a pessoa mais feliz do mundo...
Até que um dia, eu estava no auge, acho que nunca tinha conseguido alcançar aquela velocidade, a paisagem a minha volta era tão linda, a minha alegria era tanta, que eu me desconcentrei e caí.
E naquele instante que eu caí, uma ferida enorme se abriu em mim, a ferida mais dolorosa da minha vida, nunca imaginei que fosse sentir tamanha dor, cada pedaço de mim doía de uma forma tão intensa que eu já não sabia o que fazer, e pra piorar, aquela ferida me impedia de correr, depois de descobrir uma coisa que me fazia tão bem, eu não podia mais desfrutar desse prazer, eu não conseguia acreditar em como as coisas aconteceram rápido...
Eu não tirava os olhos daquela ferida, meus pensamentos sempre acabavam chegando nela, e quando isso acontecia era impossível conter as lagrimas, eu achava que nunca iria parar de doer, achava que aquela era uma dor incurável, não conseguia aceitar aquela situação, além de ser uma dor insuportável, eu havia perdido a possibilidade de correr.
Ate que um dia, enquanto eu olhava pra minha ferida, comecei a perceber que uma casquinha estava começando a se formar sobre ela, fiquei admirada com aquilo, não entendia o que tava acontecendo, será que a minha incurável dor estava sendo amenizada? Não conseguia acreditar que uma cicatriz estava começando a surgir.
Os dias foram passando, e aquela cicatriz realmente começou a tomar forma em meio ao meu sofrimento, eu não conseguia parar de olhar pra ela, e toda vez que olhava pensava naquela ferida, mas o engraçado é que quando eu olhava pra aquela cicatriz, eu me lembrava dos bons momentos, das horas em que eu corria, de cada minuto de alegria que eu vivi, lembrava das gargalhadas que eu dei, lembrava de como foram maravilhosos os momentos vividos antes da queda. Eu não imaginava que uma cicatriz pudesse me trazer coisas boas, pudesse me fazer rir, mas aquela cicatriz fazia isso comigo, eu olhava pra ela e até a achava bonita, na verdade ela era uma marca em mim, pra que eu nunca esquecesse os momentos maravilhosos que eu vivi.
Hoje eu estou olhando pra minha cicatriz, e mais uma vez estou me lembrando das minhas melhores risadas, das melhores paisagens, dos sonhos reais ou imaginários, eu simplesmente olho pra ela, e me sinto muito bem.